domingo, 20 de setembro de 2015

DISCURSO DE POSSE DE RENÃ LEITE PONTES



DISCURSO DE POSSE DE RENÃ LEITE PONTES NA PRESIDÊNCIA DA ACADEMIA DOS POETAS ACREANOS
SAUDAÇÃO
Presidente da Academia dos Poetas Mauro Modesto; Presidente da Academia Acreana de Letras Dra. Luísa Karlberg; Presidente da Academia Juvenil Acreana de Letras Jackson Viana; Confrade Moisés Diniz, da Academia do Juruá; Confrade Alessandro Borges, da Academia da Baixada; professoras que nesta noite são homenageadas; minhas senhoras, meus senhores.
DISCURSO
Quiseram os astros e este Sodalício que eu ocupasse, hoje, por escrutínio secreto, a presidência da Academia dos Poetas Acreanos, cargo de representação cultural, ocupado apenas por seu fundador e único Presidente, o economista e poeta Mauro D’ Ávila Modesto da Costa, alma acreana, escritor, ex-presidente da Academia Acreana de Letras; amigo de Raquel de Queiroz, Austregésilo de Athayde e Francisco da Silva Nobre; com assento em diversas academias do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e laureado pelas Academias da França e Portugal; fundador da Fundação Garibaldi Brasil e Fundação Municipal de Cultura e Desporto de Sena Madureira. Na sua vida pública, serviu como assessor especial de quatro governadores; publicou 11 livros, fundou a Casa do Poeta Acreano e a Academia de Jornalismo; fundou a Federação das Academias de Letras e Artes do Estado do Acre e o Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais, seção Acre.
Nos municípios, fundou as Academias de Letras e Artes de Assis Brasil, Sena Madureira, Xapuri, Brasileia, Plácido de Castro e Senador Guiomard, ocasião em que conferiu a minha mãe, a Professora Raimunda Nonata Leite, o patronato da cadeira de número 11 da Academia de Letras e Artes da terra onde nasci.
Ao Presidente que sai com sua Diretoria, expresso o reconhecimento do trabalho desinteressado que dispensaram à nossa terra e nossa gente. Expresso também a gratidão ao Sodalício, pela confiança em me eleger e de passar às minhas mãos a Presidência desta augusta casa de cultura e saber.
Este evento especial de posse representa os valores da transição democrática que - com nossa contribuição - tem sustentado em oitavas ascendentes, a cultura poética do nosso estado. Somos uma associação de pessoas, nos termos da Constituição da República, reunidas por livre iniciativa, para reclamar a representatividade das letras versificadas do nosso Estado, cultivando um espaço cultural firmado e reconhecido como Academia dos Poetas Acreanos, ou palco sagrado da poesia - intangível fonte de isonomia de direitos entre acadêmicos, amantes da poesia e profissionais das mais diversas áreas de atuação e saber, com extensão a todos os estudantes e cidadãos do Estado do Acre.
Neste instante em que aqui estamos reunidos, nossos semelhantes esperam por nossa ajuda e trabalho no campo da cooperação e do altruísmo. Não seria exagerado afirmar que a ausência dos Valores éticos e morais são a “causa causorum” dos problemas sociais que desvirtuam o conceito de sociedade, estado, família e escola.
Os problemas sociais modernos vão do destino incorreto do esgoto urbano à poluição dos mananciais; do desemprego que tanta angústia causa a juventude à insegurança urbana e rural; vão da corrupção pública à falta de investimentos necessários a educação básica, esta última, acesso preferencial para condução da nossa sociedade em crise, a um patamar superior de civilização.
Neste contexto, a Academia dos Poetas tem um papel importante, por abrigar os próceres das letras poéticas do Acre, que em teoria, amalgamam o substrato gnosiológico da poesia e as altas habilidades da leitura, escrita e oratória, enfim, competências necessárias ao exercício da cidadania e porta de acesso garantido ao mundo do trabalho, que reclama cada vez mais dos jovens trabalhadores o domínio das habilidades da leitura e escrita.
Necessitamos compreender que, independente do idioma ou país onde foi concebida, a poesia é um legado universal do gênio humano, desde os primórdios da humanidade, pairando acima de meras questões de natureza material, territorial e idiomática. Segundo a teoria literária, a poesia como forma de arte pode ser anterior à escrita. Muitas obras antigas, desde os vedas indianos (1700-1200 a.C.) e os Gathas de Zoroastro (1200-900 aC), até a Odisseia (800 - 675 a.C.), parecem ter sido compostas em forma poética para ajudar a memorização e a transmissão oral nas sociedades antigas. A poesia aparece entre os primeiros registros da maioria das culturas letradas, com fragmentos poéticos encontrados em antigos monolitos, pedras rúnicas e estelas.
Os grandes gênios da História quiseram e foram reconhecidos como poetas, a exemplo de Homero, Virgílio, Aristóteles, Dante, Goethe, Beethoven, Salomão... As obras dos reformistas e as próprias Bíblias do planeta Terra: os Edas germanos; Os Hinários Indianos, chineses, húngaros, japoneses, alemães; o Talmud; os Evangelhos de Chilam Balam de Chumayel; o Bagavat Gita (o Canto do Senhor); o Alcorão Islãmico; A Biblia Hebraica, organizada em capítulos e versos (versículos), alinhavando Salmos; os poemas da Divina Comédia de Dante em teza rima ou terça rima - forma poética dificílima que antecipa nas estrofes o som que irá ecoar por duas vezes no terceto seguinte, parecem querer nos chamar atenção para uma possibilidade de beleza superior e existência de um patamar mais elevado de organização poética associada a uma lógica de estatura proporcional a aristotélica, que segundo Kant, não sofreu adição ou correção significativa durante dois milênios.
Segundo um manuscrito depositado no Arquivo Nacional da Torre do Tombo de Lisboa, a Epopeia de Gilgamesh, um poema épico, é o poema mais antigo de que se tem notícia, foi escrito em escrita cuneiforme em tabletes de argila e, posteriormente, em papiro, no terceiro milênio a.C. na Suméria, Mesopotâmia (atual Iraque). Podemos encontrar outras poesias muito antigas nos épicos gregos Ilíada e Odisseia, nos livros iranianos antigos Gathas Avesta e Yasna e ainda no épico nacional romano Eneida, e nos épicos indianos Ramayana e Mahabharata.
A poesia, ou texto lírico, é uma das sete artes tradicionais, pela qual a linguagem humana é utilizada com fins estéticos, ou seja, ela retrata algo em que o amor, o belo, a morte, o drama, a tragédia, a comédia e a catástrofe, enfim, podem acontecer dependendo da harmonia da imaginação e capacidade de catarse provocada no leitor pela intenção (ou não) do autor. O poema pode ser definido como a obra feita através da poesia, o motivo do poema, sua causa imaterial e inspiração é a poesia. Ao artífice da poesia, aquele que escreve, canta e declama poesia, denominamo-lo de poeta.
Já os poetas são cidadãos geralmente emancipados ou desapegados materialmente por vislumbrarem algo além do seu tempo, objetivam dedicar-se a segurança e proteção cultural das suas localidades. Vejamos alguns casos:
A História dá conta de que lutaram por Helena de Tróia dois impérios, o grego e o troiano, dois estados, em uma guerra de dez anos que recrutou titãs como o myrmidon Aquiles e o mortal Heitor, além dos monarcas dos reinos interessados e seus exércitos. Mas Helena era mortal, e assim ficou velha e adoeceu e perdeu a beleza. Se não fora o poeta Homero a eternizá-la em verso ao cabo de alguns séculos após, Helena jamais teria passado para o inconsciente coletivo terrestre e se mantido bela até nossos dias.
No famoso episódio da vinda de D. João VI para o Brasil em 1808, não querendo o monarca ficar distante da arte, dos literatos e da poesia, encarregou o Ministro de Estado Antônio de Araújo de Azevedo, o Conde da Barca, para contratar um grupo de poetas, artistas e artífices na Europa para fundar, no Rio de Janeiro, uma escola ou instituto teórico-prático de aprendizagem artística e técnico-profissional - a famosa Missão Francesa de 1816. Assim nasceu, por se fazer necessária, a arte e a poesia no Brasil como hoje a concebemos.
Outro caso curioso envolveu a Torre Eiffel. Pouco tempo após sua construção em 1889, uma elite fisiológica francesa alegando a defesa do bom gosto francês, apelidaram a Torre Eifel de “torre de babel” e propuseram livrar o “Champ de Mars” da sua incômoda presença. Se não fosse a intervenção dos poetas visionários e demais artistas franceses da época, o monumento pago mais visitado do mundo, desde a sua fundação, teria sido desmontado e vendido como simples sucata para um ferro velho.
Não é demais destacar aqui um detalhe importante da revolução acreana, na etapa de 1900, a famosa expedição dos letrados que, com a simpatia do governador do Amazonas Silvério Néri, decidiram organizar a "Expedição Floriano Peixoto", batizada de "Expedição dos Poetas", devido ao elevado número de jornalistas, poetas e versejadores que dela fizeram parte, tais como Dom Epaminondas Jacome, Vitor Francisco Gonçalves e Trajano Chacon... que ambicionavam ajudar a proclamar a Segunda República do Acre. Não obstante o malogro da missão poética quando, recém-chegados ao Acre, a bordo do vapor "Solimões", em dezembro de 1900, foram dispersados, em um episódio cômico, a tiros pela guarnição boliviana de Puerto Alonso. Todavia, se a expedição dos poetas não ajudou com armas àquela etapa da revolução, o fez com importante divulgação da causa acreana nos principais jornais de Belém, Manaus Rio de Janeiro e São Paulo.
Gostaria de deixar claro a este honorável auditório, em nome da nova Diretoria, que estamos cientes dos desafios e limitações que virão, porém dispostos a fazer tudo aquilo que for dignificante, justo e bom para levar a poesia a quem mais precisa, defendendo o idioma pátrio, preservando e multiplicando o tesouro poético-literário do estado do Acre.
Nos termos da IWA, pretendemos incentivar os jovens talentos a publicação das suas obras, elevando a Literatura local que nos ajudará a sobrepor o otimismo sobre o pessimismo, o incentivo sobre a crítica, a valorização sobre a indiferença, enfim, a fraternidade sobre a divisão.
Embora sem recursos, conta bancária, nem instalações físicas onde possamos guardar o Livro Ata desta posse, não daremos lugar ao pessimismo, mas sim, a esperança ao invés do desalento; a prontidão ao invés da inércia; a alegria e a tolerância as individualidades ao invés da aridez de apontar defeitos; o diálogo humilde ao invés da negação do outro; priorizaremos o coletivo sobre o egoísmo; a beleza ao invés do descuido; enfim, seremos observadores da razão ao invés da fé cega e irracionalidade.
Por fim, agradeço ao Tribunal de Justiça do Estado do Acre, seus funcionários e demais visionários acreanos, cuja capacidade de percepção e senso valorizador da importância da poesia acreana financiaram nossa roda de poesia até os nossos dias, contribuindo para que a poesia acreana ocupasse um espaço no cenário nacional e internacional.
Me despeço aqui com um soneto porque nos eventos desta casa, não pode não haver poesia.
Muito obrigado



SETE ANOS DE PASTOR
Paráfrase de soneto de Camões
_____________________
Por Renã Leite Pontes

Sete anos de pastor Jacó servia
qual neto dedicado de Abraão;
querendo a bela filha da sua tia
e, por amar Raquel, não disse não.

Dois, sete anos, passou... chegou o dia.
Jacó foi ver Raquel e, ao recebê-la,
de pronto percebeu, não era ela
que o pai, fazendo logro, não daria.

Mas como o bom pastor bom filho fora
do potentado Isaque e uma pastora
caiu do céu a ajuda merecida.

Conforme Deus nos outros sete anos
não houve margem para mais enganos:
quem não sofre no amor não goza a vida!



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