quarta-feira, 14 de outubro de 2015


CONVITE OFICIAL DO PRESIDENTE DA  ACADEMIA DOS POETAS ACREANOS , RENÃ LEITE PONTES, AO SODALÍCIO DA ACADEMIA DOS POETAS ACREANOS - APA, PARA  PARTICIPAR DO CHÁ DAS LETRAS DE OUTUBRO DA ACADEMIA ACREANA DAS  LETRAS - AAL.

CONSIDERAÇÕES DO PALESTRANTE RENÃ LEITE PONTES A RESPEITO DO “CHÁ DAS LETRAS COM AUGUSTO DOS ANJOS DA AAL”, A OCORRER SEXTA-FEIRA, 09 DE OUTUBRO, AS 19 HORAS, NO SESC CENTRO

                                                                                               Os gênios não são classificáveis

Chegada a hora do nosso “Chá das Letras” da Academia Acreana de Letras - AAL, sob o peso da responsabilidade de palestrante que intenciona mais que o sucesso de um evento, considero oportuno deixar aqui algumas considerações a respeito de uma série de desencontros e estereótipos que cercam o autor Augusto dos Anjos (AA) e sua única obra “EU”. É óbvio que mais por desconhecimento foi disseminada, a respeito do autor e sua obra,  uma ideia do senso comum de que AA é “o poeta da morte”; “do verme”; “ da podridão” e do hediondo”;  hora aparecendo como doentio, outras como louco; e isso, de certo modo, afasta os leitores, sobretudo os mais importantes para o futuro do Brasil - leitor que estamos construindo com tanto esforço - os leitores mais jovens.
No caso, pondero, que seria interessante às partes interessadas em literatura: professores, intelectuais, acadêmicos, um estudo mais aprofundado do autor supracitado, se é que temos interesse em falar de AA com mais propriedade, então poderíamos ressaltar os elementos da moral presente na sua obra; falar do AA que gostava de pescaria; do AA que escrevia um jornalzinho interessante do próprio punho; elogiar o exemplo de vida de um autor que se dedicou aos estudos e ao Brasil; valorizar publicamente seu trabalho e vocação para o magistério; fazer elogios à profusão de idiomas que falava; dar destaque às amizades sólidas que construiu, dar ênfase ao fato do autor pertencer a uma das mais tradicionais famílias paraibanas (brasileiras); dizer que uma das suas brincadeiras preferidas era brincar de advogado, réu, juri e juiz, para testar hipóteses e argumentos; enfim, tirar da juventude o foco desta parte negativa que existe na obra dele, claro. Não é disto que estamos falando, estamos enfatizando o lado construtivo do aproveitamento da obra do autor, afirmando que obviamente a obra agostiniana tem elementos maiores e que o “EU” não é um livro biográfico, mas um livro de poesia cheios de metáforas e figurações que não correspondem a figura do AA humano, comumente incompreendido, mesmo assim sendo um dos poetas mais lidos da literatura brasileira e o maior poeta da paraíba, que bem merecia uma cadeira na ABL, inclusive por ser um poeta popular e de léxico também comum como o fósforo, o escarro, a sombra, a ponte, mesmo que seja a Buarque de Macedo ...
É oportuno dar ao público a oportunidade de saber que a obra de AA tem milhares de teses de mestrado e doutorado apenas no Brasil, com uma profusão de publicações de luxo nas nossas editoras importantes, deixando seus mais importantes “rivais” da sua época, o carioca Olavo Bilac (expoente do parnasianismo) e o já falecido, mas ainda muito lido na sua época de AA, o catarinense João da Cruz e Sousa (1861-1898), cognominado o Dante Negro (expoente do simbolismo), no chinelo em matéria de leitura e apreciação da obra, venda de livros e trânsito entre a população mais pobre do Brasil .
É importante também reconhecer que AA se antecipou ao movimento modernista e a “Semana de Arte Moderna”, em pelo menos uma década. Seria acertado dizer que AA inspira (antecipa) Manuel Bandeira, que ele antecipa João Cabral de Melo Neto? Seria interessante afirmar que "A Árvore da Serra" é uma antecipação ao movimento ecologista que hoje conhecemos?
Eu vi na internet um vídeo encenado fomentado por Imortais da ABL que chegou a me dar medo. Na feita, fiquei me perguntando o que aqueles próceres das letras brasileiras estavam pretendendo ao difundir a obra de AA com aquele escopo mórbido.
Penso que nós educadores e acadêmicos poderíamos fazer diferente ao estimular a leitura de um autor que tem, inclusive, muitos de seus poemas trabalhados em diversos certames, avaliações e concursos nacionais, para o bem do nosso povo, da poesia, do Brasil e da literatura brasileira.


Renã Leite Pontes
Presidente da Academia dos Poetas Acreanos 
Membro da Academia Acreana de Letras - AAL.