CONVITE OFICIAL DO PRESIDENTE DA ACADEMIA DOS POETAS ACREANOS , RENÃ LEITE
PONTES, AO SODALÍCIO DA ACADEMIA DOS POETAS ACREANOS - APA, PARA PARTICIPAR DO CHÁ DAS LETRAS DE OUTUBRO DA
ACADEMIA ACREANA DAS LETRAS - AAL.
CONSIDERAÇÕES DO PALESTRANTE RENÃ LEITE PONTES A RESPEITO DO
“CHÁ DAS LETRAS COM AUGUSTO DOS ANJOS DA AAL”, A OCORRER SEXTA-FEIRA, 09 DE
OUTUBRO, AS 19 HORAS, NO SESC CENTRO
Os gênios não são classificáveis
Chegada a hora do nosso “Chá das Letras” da Academia Acreana
de Letras - AAL, sob o peso da responsabilidade de palestrante que intenciona
mais que o sucesso de um evento, considero oportuno deixar aqui algumas
considerações a respeito de uma série de desencontros e estereótipos que cercam
o autor Augusto dos Anjos (AA) e sua única obra “EU”. É óbvio que mais por
desconhecimento foi disseminada, a respeito do autor e sua obra, uma ideia do senso comum de que AA é “o poeta
da morte”; “do verme”; “ da podridão” e do hediondo”; hora aparecendo como doentio, outras como
louco; e isso, de certo modo, afasta os leitores, sobretudo os mais importantes
para o futuro do Brasil - leitor que estamos construindo com tanto esforço - os
leitores mais jovens.
No caso, pondero, que seria interessante às partes interessadas
em literatura: professores, intelectuais, acadêmicos, um estudo mais
aprofundado do autor supracitado, se é que temos interesse em falar de AA com
mais propriedade, então poderíamos ressaltar os elementos da moral presente na
sua obra; falar do AA que gostava de pescaria; do AA que escrevia um
jornalzinho interessante do próprio punho; elogiar o exemplo de vida de um
autor que se dedicou aos estudos e ao Brasil; valorizar publicamente seu
trabalho e vocação para o magistério; fazer elogios à profusão de idiomas que
falava; dar destaque às amizades sólidas que construiu, dar ênfase ao fato do
autor pertencer a uma das mais tradicionais famílias paraibanas (brasileiras);
dizer que uma das suas brincadeiras preferidas era brincar de advogado, réu,
juri e juiz, para testar hipóteses e argumentos; enfim, tirar da juventude o
foco desta parte negativa que existe na obra dele, claro. Não é disto que
estamos falando, estamos enfatizando o lado construtivo do aproveitamento da
obra do autor, afirmando que obviamente a obra agostiniana tem elementos
maiores e que o “EU” não é um livro biográfico, mas um livro de poesia cheios
de metáforas e figurações que não correspondem a figura do AA humano, comumente
incompreendido, mesmo assim sendo um dos poetas mais lidos da literatura
brasileira e o maior poeta da paraíba, que bem merecia uma cadeira na ABL,
inclusive por ser um poeta popular e de léxico também comum como o fósforo, o
escarro, a sombra, a ponte, mesmo que seja a Buarque de Macedo ...
É oportuno dar ao público a oportunidade de saber que a obra
de AA tem milhares de teses de mestrado e doutorado apenas no Brasil, com uma
profusão de publicações de luxo nas nossas editoras importantes, deixando seus
mais importantes “rivais” da sua época, o carioca Olavo Bilac (expoente do
parnasianismo) e o já falecido, mas ainda muito lido na sua época de AA, o
catarinense João da Cruz e Sousa (1861-1898), cognominado o Dante Negro
(expoente do simbolismo), no chinelo em matéria de leitura e apreciação da
obra, venda de livros e trânsito entre a população mais pobre do Brasil .
É importante também reconhecer que AA se antecipou ao
movimento modernista e a “Semana de Arte Moderna”, em pelo menos uma década.
Seria acertado dizer que AA inspira (antecipa) Manuel Bandeira, que ele
antecipa João Cabral de Melo Neto? Seria interessante afirmar que "A
Árvore da Serra" é uma antecipação ao movimento ecologista que hoje
conhecemos?
Eu vi na internet um vídeo encenado fomentado por Imortais da
ABL que chegou a me dar medo. Na feita, fiquei me perguntando o que aqueles
próceres das letras brasileiras estavam pretendendo ao difundir a obra de AA
com aquele escopo mórbido.
Penso que nós educadores e acadêmicos poderíamos fazer
diferente ao estimular a leitura de um autor que tem, inclusive, muitos de seus
poemas trabalhados em diversos certames, avaliações e concursos nacionais, para
o bem do nosso povo, da poesia, do Brasil e da literatura brasileira.
Renã Leite Pontes
Presidente da Academia dos Poetas
Acreanos
Membro da Academia Acreana de Letras - AAL.