Por Renã
Leite Pontes*
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Algumas décadas atrás, a palavra
“professor” era um tratamento de distinção, quase uma honraria. Exercer o
ofício de ensinar garantia status e
respeito da comunidade. É provável que a sociedade da época entendesse melhor
do que hoje o papel dos educadores como construtores do futuro. Há muito que os
professores brasileiros, porém, não contam nem sequer com uma pálida sombra do
prestígio e do valor social que lhes foi atribuído no passado – ainda que a
atualidade costume ser chamada de “era do conhecimento”.
Sabemos
que o mundo mudou desde a queda do muro de Berlim, quando mudanças profundas
ocorreram na ordem econômica, ambiental, política, social e cultural da
humanidade. Essas mudanças influenciaram, significativamente, a dinâmica das
relações interpessoais, intergrupais e de trabalho das pessoas, em todos os
continentes.
Ademais,
com o advento da globalização, a popularidade da internet e das redes sociais,
a distância entre as pessoas, os países e os continentes diminuiu do ponto de
vista da comunicação. Uma mensagem simultânea de e-mail, por exemplo, viaja do
Brasil aos recantos do mundo que ficou uma aldeia, fenômeno que surpreende
nossos progenitores, que guardam na memória o correio de selos, a única opção
de correspondência à longa distância de outrora.
Todavia,
as profissões e os ofícios não evoluíram à proporção exigida por este século
XXI. Enquanto máquinas substituem seres humanos, jovens e adultos ficam sem
trabalho, num alto índice de desemprego que atinge as sociedades em todo o
mundo. Aqui no Brasil ele adentrou nas nossas fronteiras, encontrando o terreno
da espoliação previamente preparado pela ala antinacionalista do Congresso Nacional
- que pouco se importa com os consecutivos prejuízos brasileiros decorrentes da
não reciprocidade nas concessões e negociações internacionais.
Navegantes
deste novo oceano de necessidades básicas, a juventude estudantil brasileira,
aporta suas esperanças nas lições do
professor – um labor de aparente
e enganadora neutralidade política, porque - em muitos casos - o profissional
do magistério representa para alunos de núcleos familiares desajustados a única
oportunidade de convivência em um ambiente permeado pela Ética, Dialógica e
inteligência. Principalmente pelas razões elencadas, o labor do
profissional responsável pela formação de todos os demais, sobrevive do
modo como era realizado no tempo dos nossos pais e avós, talvez porque o estado
não tenha interesse em aparelhar os professores para pautarem suas aulas acorde
às novas tendências pedagógicas que balizam a educação moderna, ou quem sabe,
porque o magistério trabalha doente das mazelas que acometem a categoria quando
chega à pós-formação, a saber: a injustiça dos contratos temporários e o perigo
da terceirização do trabalho docente surgido com o advento do compartilhamento
das tele-aulas ministradas por “professores supergênios”.
Revestido
de grande responsabilidade moral, desempenhando-se mal ou bem em uma profissão
que, de maneira nenhuma, recomendaria aos filhos, o professor de hoje convive, cotidianamente,
com a frustração de não ter retorno garantido do seu labor pedagógico e demais
esforços despendidos para a sua formação. É possível que a desvalorização
financeira (acompanhada da alta dos preços) seja o principal problema que
aflige o magistério nacional, seguido, muito de perto, das reclamações no campo
das relações interpessoais, entenda-se: reprodução do desrespeito para com os
mestres (e até violência) por parte dos componentes da comunidade escolar,
principalmente alunos e até vizinhos da escola.
Olhando
por outro prisma, tendo-se a possibilidade de compreender nossa problemática
educacional pela lógica do alunado, entenderemos os motivos que levaram a
juventude escolar de hoje ao traço psicológico que chamamos de perda da docilidade, que são: o medo do
não ingresso na universidade; muita informação em um arcabouço moral confuso;
testemunho do mau exemplo dos poderes constituídos, em todas as esferas; e, por
fim, a baixa-estima ocasionada, também, pelo medo (futuro – um sofrimento por antecipação)
de não conseguir inserção e adaptação no mercado lucrativo, uma vez que - os
alunos sabem - os postos de trabalho mais importantes da sociedade são, em
prevalecendo a meritocracia, ocupados por adultos que, outrora, foram alunos
brilhantes.
Parece
que a esta altura da precariedade educacional brasileira, definitivamente não é
importante buscar culpados nos degraus mais baixos da escada porque, nas
últimas décadas, revezaram-se no mando brasileiro diversas pessoas
“idealistas”. Todas elas subiram ao poder prometendo tempestades de educação no
Brasil. E o que se avista na prática é o Brasil seguir se comportando de forma
infiel às reais necessidades dos brasileiros. Não deu um passo além do
simples discurso futurista que pede aos trabalhadores mais um pouco de
paciência porque a criatividade brasileira nos ajudará beatificando o costume
antiético de botar chumbo nos ombros dos outros. Seu melhor argumento
(notadamente pleonástico e tautológico) para explicar a desvalorização do
professor, esclarece que a remuneração
digna do professor - enquanto primeiro passo para alavancar a educação nacional
- é assunto simplesmente complexo, uma vez que valorizar, com bons salários, os
profissionais do magistério, representaria impacto significativo nas “folhas de
pagamentos”, porque o Brasil é pobre, ou que o trabalho do professor é um tipo
de riqueza complicada para dar retorno em cinquenta anos, algo assim como um pré-sal, algo profundo, um
produto difícil de extrair.
Alheio a tudo
isso, no Japão, Sua Alteza, o Imperador, dispensa o professor de reverenciá-lo,
como única exceção entre as demais profissões. E o Brasil, o que vai fazer com
os professores? Rebaixá-los ao patamar ínfimo de uma profissão que forma todas
as outras, exigindo o sangue e a alma sem pagar-lhe dignamente? Todas as
profissões têm sua importância, mas a atividade do professor é estratégica para
o futuro e
deveria receber mais atenção. Por isso
este texto reverencia o professor, Sua Alteza.
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Renã Leite Pontes – Escritor e poeta;
Membro Vitalício da International Writers end Artists Association - IWA,
Toledo, Ohio, USA; Membro Honorário do Instituto Brasileiro de Culturas
Internacionais - IMBRASCI, RJ; Membro Fundador da Academia dos Poetas Acreanos;
Professor de Educação Física, no Acre.
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