domingo, 5 de abril de 2015

PASSOS PARA UM TRABALHO CIENTÍFICO

SEGUNDO O PROF. RENÃ LEITE PONTES, IWA,  MEMBRO DA ACADEMIA ACREANA DE LETRAS

1. INTRODUÇÃO
O autor deve dizer a seus leitores como veio a se envolver com o assunto, em que circunstância o mesmo o cativou e qual importância do mesmo para o autor, comunidade acadêmica e sociedade em geral. A relevância do trabalho deve abranger diversos aspectos, como: filosófico, político, econômico, científico, etc.
Ex.: percebemos que na contabilidade não há estudos sobre a relação social entre o contador e o pagador de tributos (contribuinte), portanto, nosso interesse principal é, neste projeto, apontar rumos para estabelecimento de uma relação mais humanística[1] entre tributador e contribuinte.
2- Percebemos que no ambiente extra-hospitalar circulam pacientes com escalpe exposto e que não há estudo sobre as implicações desta atitude para a saúde da comunidade hospitalar, portanto nosso interesse principal neste projeto é identificar as possibilidades de contaminação do ponto de vista da microbiologia.

2. REVISÃO DA LITERATURA
É a tarefa que precede, acompanha e segue as demais tarefas de elaboração do projeto de pesquisa. Temos que definir o problema para adequar as hipóteses, para elaborar os instrumentos de pesquisa, para categorizar e analisar os resultados, para interpretá-los, apresentar sugestões e concluir.
Obs.: deve-se consultar fontes idôneas e autores idôneos sobre o tema em questão.

3. TEMA, TÍTULO OU ASSUNTO
Deve-se preferir a formulação mais sucinta possível, de modo que o tema possa ser retido de memória, representando uma referência prática para a identificação da pesquisa.

São exemplos:
a)     Avaliação em Educação Física Escolar: perspectiva do educando.
b)    Formação política do professor de História.
c)     A influência do pensamento do Dr. Adib Jatene na saúde brasileira.
d)    O discurso das ciências humanas na universidade Federal do Acre.

4. PROBLEMA
A forma mais simples de apresentar o problema é sob a forma da pergunta direta, direcionando o questionamento para aquilo que se quer investigar, identificando os itens que queremos explorar, desvendar e conhecer.
         Exemplos:
a)     Qual é o nível de comprometimento profissional que o enfermeiro/médico/bioquímico revela em sua prática de saúde?
b)    Qual é o tipo de formação política do enfermeiro da Universidade Federal de Sergipe?
c)     O que, em sua opinião, distingue o projeto acadêmico da Universidade de São Paulo das instituições similares?
d)      Qual sua avaliação sobre o seu desempenho pessoal como professor da Universidade de São Paulo?
e)     Quais as suas perspectivas na sua Universidade para os próximos cinco anos?
f)      Quais as perspectivas do seu setor para os próximos cinco anos?
g)     Quais são os entraves que as políticas mais recentes de governo impõem ao seu crescimento e desempenho profissional ?
h)    Quais as facilidades e os estímulos que seu empregador oferece ao seu crescimento profissional e atendimento ao público?

É comum começarmos uma pesquisa sem muita certeza do problema principal, porque não temos bem claro o que queremos. Isso é natural, sobretudo no campo da investigação pioneira em que não há pesquisa disponível em bibliografias anteriores.
Os problemas vão ajustando-se progressivamente a realidade e dinâmica da pesquisa, pois só passamos a ver mais claramente o que pesquisamos à medida que nos envolvemos com o trabalho prático e a revisão da literatura.
Às vezes o pesquisador tem a sensação que o projeto se descaracteriza a medida que se avança na investigação, gerando confusão. Isso não é verdade, o que ocorre, na realidade, é apenas o reordenamento das prioridades, abordagens e ideias relacionadas com o tema defendido.

5. HIPÓTESE
A hipótese é uma primeira resposta nossa, provisória, para cada problema formulado. Neste sentido as hipóteses são um Guia de Pesquisa que servem para detalhar e explicar as questões formuladas.
Há circunstâncias em que um projeto de pesquisa pode ser totalmente formulado sem conter hipóteses.
Isso pode ocorrer com um tema pouco estudado, para o qual não conhecemos literatura ou nossa vivência é insuficiente para nos permitir formular explicações ou respostas. Nestes casos, nossas hipóteses serão como perguntas de crianças, no sentido de que perguntamos algo porque queremos saber as respostas, por desconhecê-las.
Uma hipótese deve ser lógica e testável por qualquer pessoa que queira confirmar nossas descobertas.

6. VARIÁVEIS
As variáveis são necessárias quando se trabalha com população e amostra. Tem uma estreita relação com as hipóteses. É muito comum as hipóteses apresentarem variáveis, podendo ter uma hipótese duas ou mais variantes.
Por exemplo, podemos ter a hipótese que relaciona a variável sexo com o desempenho dos falantes em relação à norma linguística culta.
Neste caso, observamos que a variável sexo tem duas variantes, masculino e feminino. E que as mulheres estão mais próximas da norma culta do que os homens em termo de comportamento verbal.
Obs.: A vantagem feminina relativamente à fala se dá devido à predisposição de estruturas cerebrais.
Uma tese pode ter as seguintes características:
Todos os testados são seminaristas, estudam as mesmas coisas, comem a mesma comida, dormem na mesma hora, habitam no mesmo lugar, têm o mesmo estilo de vida etc, portanto, aqui não necessitamos de variáveis, mas de constantes.
Existe o caso em que o pesquisador procura intencionalmente um grupo amostral mais homogêneo, objetivando eliminar as variáveis.
Outro exemplo em que as variáveis são descartadas: todos os professores são mestres docentes do Departamento de Matemática da Universidade Federal do Acre, e o sexo (intelectualmente) não vamos levá-lo em consideração. Neste caso, também, não se trabalha com variáveis, mas com constantes.
As variáveis mais comuns são: a variável binária e variável eneária.

7. OBJETIVOS
O objetivo de uma pesquisa é sempre verificar o valor da hipótese formulada como resposta provisória ao problema.
No caso de projeto formulado sem hipótese o objetivo é responder as questões formuladas como problemas.
São exemplos de objetivos:
a)     Qual a influencia do pensamento de Philippe Perrenoud e Edgar Morin para a educação brasileira.
b)    Quais as dificuldades, oportunidades e estímulos oferecidos ao profissional de saúde da rede estadual de saúde do estado do Acre.
c)     Saber como os alunos de Biomedicina gostariam de ser avaliados nesta cátedra, ou seja, qual a perspectiva do aluno com relação à avaliação em Biomedicina.
d)    Qual a visão[2] que o professor da rede estadual de ensino do estado do Acre tem da Instituição SEE no governo Tião Viana em 2015.

OBS.: Cada item corresponde a um trabalho diferente.

Além do objetivo geral, podemos ter vários desdobramentos deste, como objetivos parciais mais específicos, todos voltados para o conhecimento da nossa realidade.

8. METODOLOGIA
Diz respeito a como que se vai direcionar o estudo implementado.
A metodologia dará noções de como o trabalho foi realizado e quais os passos, recursos, pessoas, regulamentações, estratégias, materiais, utilizados para tornar exequível o projeto.
Uma preocupação deve estar presente em todos os passos da investigação, é traduzir as relações em uma atitude de respeito para com os saberes daqueles que lhes prestarão informações.
         Assim deve-se:
-         Procurar evitar preconceitos nas delimitações dos problemas;
-         Na definição da população e do grupo amostral, respeitarmos a autonomia dos indivíduos e dos grupos;
-         Nos pautarmos por variáveis que sejam identificáveis, sem constrangimento para os informantes;
-         Permitir ao informante liberdade em discorrer sobre os tópicos que concordou em abordar;
-         Ser fiel a formulação discursiva do informante, evitando qualquer tipo de desvios.
-         Só emitirmos opinião, no quadro da corrente teórica que adotamos;
-         Tentarmos captar o vivido tal como ele é vivido, sob a ótica e condições de quem o vivencia.

9. POPULAÇÀO E AMOSTRA
A população alvo em cada projeto de pesquisa, consiste no universo de indivíduos que pertencem a categoria relacionada ao trabalho-pesquisa que pretendemos empreender. Indivíduos que possam dar repostas fidedignas àquilo que se pretende testar com o projeto.
Na prática, essa população é apenas um ponto de referência para garantir a homogeneidade dos informantes. Não se deve trabalhar abrangendo um universo todo, heterogêneo e sim apenas com uma amostra ou grupo amostral do mesmo grupo, selecionado de forma aleatória (randômica) ou intencional.
Ex1.: No Projeto Comprometimento Pedagógico a população constitui-se de 15 professores de Educação Física do primeiro grau das escolas públicas de Rio Branco - AC, que atuam na mesma área geográfica e pertencem ao mesmo distrito educacional.
2- No “Programa Mais Médicos do Governo Federal”, a população médica é formada quase em sua totalidade por médicos estrangeiros que não falam ou mal falam o Português. Esta é uma particularidade importante, portanto, quais as implicações e dificuldades para pacientes que têm tratamento dispensados por médicos com diferenças culturais  e idiomáticas tão gritantes.

10-INSTRUMENTOS
Os instrumentos mais comuns na área das ciências humanas são a entrevista e o questionário, além da escala e o formulário. O formulário é uma lista de itens ou critérios para observação sistemática, já a escala aproxima-se muito dos testes de múltipla escolha, com várias alternativas para testar o valor-verdade de afirmações relativamente polemicas, do tipo: (concordo, discordo, concordo parcialmente, discordo parcialmente, não tenho opinião).
No entanto, o instrumento por excelência é a ENTREVISTA, tanto a de elite, como a entrevista guiada, que segue acompanhada da observação sistemática.
A entrevista de elite é uma entrevista  que resume-se a poucas questões,  dirigidas a uma pessoa especialista ou autoridade reconhecida para que discorra sobre um assunto que o pesquisador está investigando, canalizando o que se quer da entrevista para chegar se ao aumento da confiabilidade dos dados.
Ex.: de entrevista guiada na área médica.
Seção A: historia de vida:
1-    Onde e quando você se graduou?
2-    Que motivo levou você a estudar medicina?
Seção B: concepções:
1-    Na sua opinião,  o que é ideologia?
2-    Na sua opinião, o que é educação?
3-    Na sua opinião, o que é medicina?
4-    Na sua opinião, qual o objeto da medicina?
5-    Na sua opinião, quais as prioridades na formação do profissional médico?


11-COLETA-PILOTO
Representa uma oportunidade para testar o projeto como um todo, inclusive a qualidade da gravação, a adequação do local de coleta e o desempenho do entrevistador.
Toda entrevista deve ser gravada com gravador à vista do informante (embora o gravador tire a naturalidade da fala) e com seu consentimento explícito para que sua fala seja gravada. Gravar facilita tanto a confiabilidade dos dados, quanto o respeito a interação verbal que se estabelece entre os interlocutores. Também por razões éticas garante-se e cumpre-se a promessa do anonimato do informante.
Sempre é bom mostrar a entrevista gravada previamente para uma pessoa ou pessoas mais experientes na nossa área. Às vezes, o que para nós está claro, pode soar confuso para outros. Havendo ambiguidades, a amostra real vai necessitar de reformas.

12-TRANSCRIÇÃO
A fidelidade do texto do informante impede-nos de editar, aprimorar ou “corrigir” aquilo que o informante disse.
A função principal da transcrição é tornar os materiais organizados e disponíveis para analise e categorização. Dado que nosso foco de interesse é o conteúdo semântico do discurso, não necessitamos deter-nos em detalhes fonéticos, do tipo, presença ou ausência de vibrante final ou outros fonemas do tipo, supressão ou acréscimo de semivogais etc.

13-CONCLUSÕES
É espaço próprio para considerações, nem sempre conclusivas, sobre a validação da hipótese, bem como sobre o conteúdo das respostas encontradas para o conteúdo que motivou a pesquisa. As conclusões são sempre provisórias, porque nunca comprovamos uma hipótese de forma definitiva, sempre ficamos na dependência de novas pesquisas, que venham ratificar, retificar ou desautorizar aquilo que investigamos.

14- SUGESTÕES
É muito comum aparecerem em alguns trabalhos, algumas considerações de caráter sugestivo, ao final das conclusões. É também comum aparecer o título final CONCLUSÕES E SUGESTÕES.
Sugestões não é um item obrigatório, mesmo porque há pesquisas que privilegiam o ato de CONHECER SEM IMPLICAÇÃO NECESSÁRIA DE INTERFERIR NO MEIO.
Por outro lado, as finalidades últimas das pesquisas de orientação participativa são aumentar o conhecimento da realidade e, de alguma forma, interferir nesta realidade e modificá-la para melhor (também se modifica para pior) a partir do conhecimento adquirido.

15- CRONOGRAMA
Deve ser elaborado mesmo antes da revisão da literatura. É ele que vai dimensionar o nosso tempo e fornecer elementos se estamos cumprindo ou não as etapas que nós mesmos impusemos ao nosso trabalho. Deve-se ser muito cuidadoso e sincero ao se elaborar o cronograma, para que não se trabalhe ora estressados, ora com tempo de sobra. O cumprimento do cronograma estabelecido é o indicativo preciso de que nosso trabalho está fluindo bem.
Exemplo.:


Nº DA ETAPA
DESCRIÇÃO DAS ETAPAS
DE
ATÉ
01
Reunião com orientador para definição do tema
09.03.15
09.03.01
02
Visita a biblioteca da UFAC para levantamento de livros
10.03.01
10.03.15
03
Revisão da literatura e levantamento das hipóteses
11.03.15
22.04.15
04
Elaboração de itens e gravação da entrevista
23.04.15
25.04.15
05
Reunião com juiz para testar a entrevista 
26.04.15
27.04.15
06
Aplicação da entrevista para  professores do Colégio de Aplicação da UFAC
28.04.15
28.04.15
07
Tabulação dos dados da entrevista e tratamento estatístico
29.04.15
12.05.15
etc
etc
etc
etc







RECURSOS
Deve-se elencar o que necessitamos em termos humanos, materiais e financeiros, consultorias, assessorias, suporte técnico, material de expediente, despesas com viagens, aquisição de livros etc, dependendo do nosso tipo de pesquisa. Se a nossa pesquisa é uma simples monografia, então devemos listar apenas o que necessitamos.

      







[1] Humanismo – Doutrina e movimento dos humanistas da renascença que visavam formar o espírito humano pela cultura literária ou científica. Afirma que a verdade de um conhecimento se define a partir de que consiga fazer o que necessita ser feito, em benefício da humanidade.
[2] Representação 


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