SEGUNDO O PROF. RENÃ LEITE PONTES, IWA, MEMBRO DA ACADEMIA ACREANA DE LETRAS
1.
INTRODUÇÃO
O autor
deve dizer a seus leitores como veio a se envolver com o assunto, em que circunstância
o mesmo o cativou e qual importância do mesmo para o autor, comunidade
acadêmica e sociedade em geral. A relevância do trabalho deve abranger diversos
aspectos, como: filosófico, político, econômico, científico, etc.
Ex.:
percebemos que na contabilidade não há estudos sobre a relação social entre o
contador e o pagador de tributos (contribuinte), portanto, nosso interesse
principal é, neste projeto, apontar rumos para estabelecimento de uma relação
mais humanística[1]
entre tributador e contribuinte.
2-
Percebemos que no ambiente extra-hospitalar circulam pacientes com escalpe exposto
e que não há estudo sobre as implicações desta atitude para a saúde da
comunidade hospitalar, portanto nosso interesse principal neste projeto é identificar
as possibilidades de contaminação do ponto de vista da microbiologia.
2. REVISÃO
DA LITERATURA
É a tarefa
que precede, acompanha e segue as demais tarefas de elaboração do projeto de
pesquisa. Temos que definir o problema para adequar as hipóteses, para elaborar
os instrumentos de pesquisa, para categorizar e analisar os resultados, para
interpretá-los, apresentar sugestões e concluir.
Obs.:
deve-se consultar fontes idôneas e autores idôneos sobre o tema em questão.
3. TEMA,
TÍTULO OU ASSUNTO
Deve-se
preferir a formulação mais sucinta possível, de modo que o tema possa ser
retido de memória, representando uma referência prática para a identificação da
pesquisa.
São exemplos:
a)
Avaliação em Educação Física Escolar :
perspectiva do educando.
b)
Formação política do professor de História.
c)
A influência do pensamento do Dr. Adib Jatene na saúde
brasileira.
d)
O discurso das ciências humanas na universidade Federal
do Acre.
4. PROBLEMA
A forma
mais simples de apresentar o problema é sob a forma da pergunta direta, direcionando o questionamento para aquilo que se
quer investigar, identificando os itens que queremos explorar, desvendar e
conhecer.
Exemplos:
a)
Qual é o nível de comprometimento profissional que o enfermeiro/médico/bioquímico
revela em sua prática de saúde?
b)
Qual é o tipo de formação política do enfermeiro da
Universidade Federal de Sergipe?
c)
O que, em sua opinião, distingue o projeto acadêmico
da Universidade de São Paulo das instituições similares?
d)
Qual sua
avaliação sobre o seu desempenho pessoal como professor da Universidade de São
Paulo?
e)
Quais as suas perspectivas na sua Universidade para os
próximos cinco anos?
f)
Quais as perspectivas do seu setor para os próximos
cinco anos?
g)
Quais são os entraves que as políticas mais recentes
de governo impõem ao seu crescimento e desempenho profissional ?
h)
Quais as facilidades e os estímulos que seu empregador
oferece ao seu crescimento profissional e atendimento ao público?
É comum começarmos uma pesquisa sem muita certeza do
problema principal, porque não temos bem claro o que queremos. Isso é natural,
sobretudo no campo da investigação pioneira em que não há pesquisa
disponível em bibliografias anteriores.
Os problemas
vão ajustando-se progressivamente a realidade e dinâmica da pesquisa, pois só
passamos a ver mais claramente o que pesquisamos à medida que nos envolvemos com
o trabalho prático e a revisão da literatura.
Às vezes o
pesquisador tem a sensação que o projeto se descaracteriza a medida que se
avança na investigação, gerando confusão. Isso não é verdade, o que ocorre, na realidade,
é apenas o reordenamento das prioridades, abordagens e ideias relacionadas com
o tema defendido.
5. HIPÓTESE
A hipótese
é uma primeira resposta nossa, provisória, para cada problema formulado. Neste
sentido as hipóteses são um Guia de Pesquisa que servem para detalhar e
explicar as questões formuladas.
Há
circunstâncias em que um projeto de pesquisa pode ser totalmente formulado sem
conter hipóteses.
Isso pode
ocorrer com um tema pouco estudado, para o qual não conhecemos literatura ou
nossa vivência é insuficiente para nos permitir formular explicações ou
respostas. Nestes casos, nossas hipóteses serão como perguntas de crianças, no
sentido de que perguntamos algo porque
queremos saber as respostas, por desconhecê-las.
Uma
hipótese deve ser lógica e testável por qualquer pessoa que queira confirmar
nossas descobertas.
6.
VARIÁVEIS
As
variáveis são necessárias quando se trabalha com população e amostra. Tem uma
estreita relação com as hipóteses. É muito comum as hipóteses apresentarem
variáveis, podendo ter uma hipótese duas ou mais variantes.
Por
exemplo, podemos ter a hipótese que relaciona a variável sexo com o desempenho
dos falantes em relação à norma linguística culta.
Neste caso,
observamos que a variável sexo tem duas variantes, masculino e feminino. E que
as mulheres estão mais próximas da norma culta do que os homens em termo de
comportamento verbal.
Obs.: A
vantagem feminina relativamente à fala se dá devido à predisposição de
estruturas cerebrais.
Uma tese pode ter as seguintes características:
Todos os
testados são seminaristas, estudam as mesmas coisas, comem a mesma comida,
dormem na mesma hora, habitam no mesmo lugar, têm o mesmo estilo de vida etc,
portanto, aqui não necessitamos de variáveis, mas de constantes.
Existe o
caso em que o pesquisador procura intencionalmente um grupo amostral mais
homogêneo, objetivando eliminar as variáveis.
Outro
exemplo em que as variáveis são descartadas: todos os professores são mestres
docentes do Departamento de Matemática da Universidade Federal do Acre, e o
sexo (intelectualmente) não vamos levá-lo em consideração. Neste
caso, também, não se trabalha com variáveis, mas com constantes.
As
variáveis mais comuns são: a variável binária e variável eneária.
7.
OBJETIVOS
O objetivo
de uma pesquisa é sempre verificar o valor da hipótese formulada como resposta
provisória ao problema.
No caso de
projeto formulado sem hipótese o objetivo é responder as questões formuladas
como problemas.
São
exemplos de objetivos:
a)
Qual a influencia do pensamento de Philippe Perrenoud
e Edgar Morin para a educação brasileira.
b)
Quais as dificuldades, oportunidades e estímulos
oferecidos ao profissional de saúde da rede estadual de saúde do estado do
Acre.
c)
Saber como os alunos de Biomedicina gostariam de ser
avaliados nesta cátedra, ou seja, qual a perspectiva do aluno com relação à
avaliação em Biomedicina.
d)
Qual a visão[2]
que o professor da rede estadual de ensino do estado do Acre tem da Instituição
SEE no governo Tião Viana em 2015.
OBS.: Cada
item corresponde a um trabalho diferente.
Além do objetivo geral, podemos ter vários desdobramentos
deste, como objetivos parciais mais específicos, todos voltados para o
conhecimento da nossa realidade.
8.
METODOLOGIA
Diz
respeito a como que se vai direcionar o estudo implementado.
A
metodologia dará noções de como o trabalho foi realizado e quais os passos,
recursos, pessoas, regulamentações, estratégias, materiais, utilizados para
tornar exequível o projeto.
Uma
preocupação deve estar presente em todos os passos da investigação, é traduzir as
relações em uma atitude de respeito para com os saberes daqueles que lhes
prestarão informações.
Assim deve-se:
-
Procurar evitar preconceitos nas delimitações dos
problemas;
-
Na definição da população e do grupo amostral,
respeitarmos a autonomia dos indivíduos e dos grupos;
-
Nos pautarmos por variáveis que sejam identificáveis,
sem constrangimento para os informantes;
-
Permitir ao informante liberdade em discorrer sobre os
tópicos que concordou em abordar;
-
Ser fiel a formulação discursiva do informante,
evitando qualquer tipo de desvios.
-
Só emitirmos opinião, no quadro da corrente teórica
que adotamos;
-
Tentarmos captar o vivido tal como ele é vivido, sob a
ótica e condições de quem o vivencia.
9.
POPULAÇÀO E AMOSTRA
A população
alvo em cada projeto de pesquisa, consiste no universo de indivíduos que
pertencem a categoria relacionada ao trabalho-pesquisa que pretendemos
empreender. Indivíduos que possam dar repostas fidedignas àquilo que se
pretende testar com o projeto.
Na prática,
essa população é apenas um ponto de referência para garantir a homogeneidade
dos informantes. Não se deve trabalhar abrangendo um universo todo, heterogêneo
e sim apenas com uma amostra ou grupo
amostral do mesmo grupo, selecionado de forma aleatória (randômica) ou
intencional.
Ex1.: No Projeto Comprometimento Pedagógico a
população constitui-se de 15 professores de Educação Física do primeiro grau
das escolas públicas de Rio Branco - AC, que atuam na mesma área geográfica e
pertencem ao mesmo distrito educacional.
2- No “Programa Mais Médicos do Governo Federal”, a
população médica é formada quase em sua totalidade por médicos estrangeiros que
não falam ou mal falam o Português. Esta é uma particularidade importante,
portanto, quais as implicações e dificuldades para pacientes que têm tratamento
dispensados por médicos com diferenças culturais e idiomáticas tão gritantes.
10-INSTRUMENTOS
Os instrumentos mais comuns na área das ciências humanas são a
entrevista e o questionário, além da escala e o formulário. O formulário é uma
lista de itens ou critérios para observação sistemática, já a escala
aproxima-se muito dos testes de múltipla escolha, com várias alternativas para
testar o valor-verdade de afirmações relativamente polemicas, do tipo:
(concordo, discordo, concordo parcialmente, discordo parcialmente, não tenho
opinião).
No entanto,
o instrumento por excelência é a ENTREVISTA, tanto a de elite, como a
entrevista guiada, que segue acompanhada da observação sistemática.
A
entrevista de elite é uma entrevista que
resume-se a poucas questões, dirigidas a
uma pessoa especialista ou autoridade reconhecida para que discorra sobre um
assunto que o pesquisador está investigando, canalizando o que se quer da
entrevista para chegar se ao aumento da confiabilidade dos dados.
Ex.: de
entrevista guiada na área médica.
Seção A:
historia de vida:
1-
Onde e quando você se graduou?
2-
Que motivo levou você a estudar medicina?
Seção B:
concepções:
1-
Na sua opinião,
o que é ideologia?
2-
Na sua opinião, o que é educação?
3-
Na sua opinião, o que é medicina?
4-
Na sua opinião, qual o objeto da medicina?
5-
Na sua opinião, quais as prioridades na formação do
profissional médico?
11-COLETA-PILOTO
Representa
uma oportunidade para testar o projeto como um todo, inclusive a qualidade da
gravação, a adequação do local de coleta e o desempenho do entrevistador.
Toda
entrevista deve ser gravada com gravador à vista do informante (embora o
gravador tire a naturalidade da fala) e com seu consentimento explícito para
que sua fala seja gravada. Gravar facilita tanto a confiabilidade dos dados,
quanto o respeito a interação verbal que se estabelece entre os interlocutores.
Também por razões éticas garante-se e cumpre-se a promessa do anonimato do
informante.
Sempre é
bom mostrar a entrevista gravada previamente para uma pessoa ou pessoas mais
experientes na nossa área. Às vezes, o que para nós está claro, pode soar
confuso para outros. Havendo ambiguidades, a amostra real vai necessitar de
reformas.
12-TRANSCRIÇÃO
A
fidelidade do texto do informante impede-nos de editar, aprimorar ou “corrigir”
aquilo que o informante disse.
A função
principal da transcrição é tornar os materiais organizados e disponíveis para
analise e categorização. Dado que nosso foco de interesse é o conteúdo
semântico do discurso, não necessitamos deter-nos em detalhes fonéticos, do
tipo, presença ou ausência de vibrante final ou outros fonemas do tipo,
supressão ou acréscimo de semivogais etc.
13-CONCLUSÕES
É espaço
próprio para considerações, nem sempre conclusivas, sobre a validação da
hipótese, bem como sobre o conteúdo das respostas encontradas para o conteúdo
que motivou a pesquisa. As conclusões são sempre provisórias, porque nunca
comprovamos uma hipótese de forma definitiva, sempre ficamos na dependência de
novas pesquisas, que venham ratificar, retificar ou desautorizar aquilo que
investigamos.
14- SUGESTÕES
É muito
comum aparecerem em alguns trabalhos, algumas considerações de caráter
sugestivo, ao final das conclusões. É também comum aparecer o título final CONCLUSÕES
E SUGESTÕES.
Sugestões
não é um item obrigatório, mesmo porque há pesquisas que privilegiam o ato de CONHECER
SEM IMPLICAÇÃO NECESSÁRIA DE INTERFERIR NO MEIO.
Por outro
lado, as finalidades últimas das pesquisas de orientação participativa são
aumentar o conhecimento da realidade e, de alguma forma, interferir nesta
realidade e modificá-la para melhor (também se modifica para pior) a partir do
conhecimento adquirido.
15- CRONOGRAMA
Deve ser
elaborado mesmo antes da revisão da literatura. É ele que vai dimensionar o
nosso tempo e fornecer elementos se estamos cumprindo ou não as etapas que nós
mesmos impusemos ao nosso trabalho. Deve-se ser muito cuidadoso e sincero ao se
elaborar o cronograma, para que não se trabalhe ora estressados, ora com tempo
de sobra. O cumprimento do cronograma estabelecido é o indicativo preciso de
que nosso trabalho está fluindo bem.
Exemplo.:
Nº DA ETAPA
|
DESCRIÇÃO DAS ETAPAS
|
DE
|
ATÉ
|
01
|
Reunião
com orientador para definição do tema
|
09.03.15
|
09.03.01
|
02
|
Visita a
biblioteca da UFAC para levantamento de livros
|
10.03.01
|
10.03.15
|
03
|
Revisão
da literatura e levantamento das hipóteses
|
11.03.15
|
22.04.15
|
04
|
Elaboração
de itens e gravação da entrevista
|
23.04.15
|
25.04.15
|
05
|
Reunião
com juiz para testar a entrevista
|
26.04.15
|
27.04.15
|
06
|
Aplicação
da entrevista para professores do
Colégio de Aplicação da UFAC
|
28.04.15
|
28.04.15
|
07
|
Tabulação
dos dados da entrevista e tratamento estatístico
|
29.04.15
|
12.05.15
|
etc
|
etc
|
etc
|
etc
|
RECURSOS
Deve-se elencar o que necessitamos em termos humanos, materiais e
financeiros, consultorias, assessorias, suporte técnico, material de
expediente, despesas com viagens, aquisição de livros etc, dependendo do nosso
tipo de pesquisa. Se a nossa pesquisa é uma simples monografia, então devemos
listar apenas o que necessitamos.
[1]
Humanismo – Doutrina e movimento dos humanistas da renascença que visavam
formar o espírito humano pela cultura literária ou científica. Afirma que a
verdade de um conhecimento se define a partir de que consiga fazer o que
necessita ser feito, em benefício da humanidade.
[2]
Representação
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