DISCURSO SOLICITADO
AO PROFESSOR RENÃ LEITE PONTES* PELA PRESIDÊNCIA DO CREF 8, PARA SER PROFERIDO
NO PLENÁRIO DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO ACRE, POR OCASIÃO DE “1 DE
SETEMBRO” - DIA DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA/2015
Antes
de iniciar uma abordagem mais específica a respeito da data alusiva ao “1º de Setembro
- Dia do Profissional de Educação Física”, aproveito o espaço privilegiado
desta Casa legislativa, para contribuir com uma reflexão a respeito da importância
da nossa profissão para a solução dos problemas sociais que nos afligem na
contemporaneidade: problemas de saúde, desemprego, insegurança, meio ambiente,
fome, guerras... ou seja, o cenário de profunda crise pela qual passa a
humanidade, posto que o Profissional de Educação Física trabalha com o
substrato cinestésico dos corpos humanos (e seus saberes históricos) que manifestam
sua existência através da vontade, pensamento, sentimento, cultura, enfim, manifestações comuns aos ramos de atuação humana, que não prescindem
da nossa voz em qualquer diagnóstico social multidisciplinar.
Como
imperativo, nosso campo de atuação foi (e é) valorizado pelos gênios da humanidade
das áureas sociedades democráticas da história, não havendo, portanto, margem
para redutibilidade da nossa contribuição; ao contrário, nosso campo de atuação
foi, e continua sendo, um complexo-delicado, isso assumimos, que apesar da sua aparente
neutralidade, retroalimenta-se da ideia de conjuntura política e inter-relação,
de modo que, sem a nossa interferência - de área privilegiada e estratégica -
todo o arcabouço do estudo das causas dos problemas sociais (imperativo para a
solução destes) seria prejudicado, em especialmente no que diz respeito aos
procedimentos e ato construtivo.
Minhas senhoras, meus senhores,
Estamos
passando, na história da humanidade, por um momento de relatividade caracterizado
pela desvalorização da pessoa que nasce e apresenta sua força, inteligência e
juventude à sua localidade. Parece que para o mercado de trabalho global, do
oriente ao ocidente, melhor seria que a humanidade estagnasse e que não
nascesse mais gente. Talvez assim fosse possível - creem alguns intuitivos - juncar
a marcha triunfal da fome mundial ocasionada pelo desemprego, esta chaga aberta
que tem suas raízes nos humores de líderes que, ao invés de aproveitar os
talentos físicos e mentais da juventude, a maior riqueza de uma nação, preferem
faltar para com o dever, omitindo-se, e aumentar a fenda abissal existente
entre os que têm demais e estoutras pobres vítimas indefesas dos desvios
públicos, da insegurança, da pobreza, da fome, guerra e dor.
Causa-nos
tristeza ver como muitas pessoas que
chegaram primeiro e aferraram-se a uma suposta “estabilidade econômica” (ou
estabilidade no emprego), são incapazes de sensibilizarem-se, por exemplo, com
a causa dos professores que iniciam uma carreira em regime de “contrato temporário”,
forma mesquinha de “emprego” (a preferida dos governos mais recentes) que avança na contra mão da via da dignidade,
autonomia e valorização do trabalhador que elegeu desempenhar-se - quase sempre
por vocação - na profissão formadora de todas as demais. Para aqueles que se sentem muito estáveis economicamente - tão indiferentes e alheios ao problema - eu
indicaria a leitura do clássico “Guerra
e Paz” de León Tolstói. Ali testemunharemos, na história, como as mudanças
sociais fazem império virar ruína, barão vira pedinte, general virar coitado e
príncipe vira sapo. Eu mesmo agradeço a Deus por não ser um jovem desempregado,
em busca de um lugar ao sol, neste mundo de hoje.
Porque
nestes momentos em que aqui estamos reunidos, do Acre à França, Alemanha, Reino
Unido... move-se uma onda migratória de fugitivos da pobreza, que são, em
verdade, refugiados da fome e da falta de estruturação política e soberania
popular nos seus locais de origem. Disseram-nos que esta “diáspora do desespero”
deriva das catástrofes ambientais que começaram a mudar o cenário mundial a
partir de 2004. De fato, as catástrofes ambientais sempre existiram, mas nada
comparado com o famigerado “Tsunami da Indonésia”, tão violento que moveu os
polos magnéticos da Terra, deixando no seu rastro 170.000 mortos; em 2010, aqui
perto de nós, ocorreu o singularíssimo “Terremoto do Haiti”, que deixou atrás
de si a assombrosa cifra de 200 mil mortos, incluindo militares brasileiros em
missão e a nossa altaneira médica ativista Zilda Arns.
Também
testemunhamos, em 2011, o “Tsunami do Japão”, cujas ondas gigantes, causaram um
tremor de 9 graus na escala Richter, danificando seriamente a Usina nuclear de
Fukushima e matando instantaneamente milhares de pessoas.
Conforme
ilustramos, os problemas sociais estão postos como grandes questões que dizem
respeito a toda a sociedade. E, nós, profissionais de educação física estamos
prontos a contribuir através dos saberes tradicionais da ciência e arte que herdamos
e representamos com justificada altivez. Porque construímos nossa história trabalhando
fisicamente pelo bem do nosso país; somos investigadores da educação física,
cientistas, empresários e professores de academias GYM que orientam os beneficiários
dos exercícios físicos; somos professores que educam uma verdadeira legião de
alunos espalhados por milhares de escolas (e universidades) do Brasil; somos
técnicos em reabilitação cardíaca e orientadores físicos de milhares de pessoas
em idade geriátrica; somos treinadores olímpicos e representamos a força e
espírito altaneiro da grande nação brasileira, enfim; somos treinadores de
estratégia militar, trabalhando pela segurança dos brasileiros e soberania
nacional; somos treinadores esportivos respeitados e com salário mensal - quando
atuamos nos grandes clubes - que atinge o montante de até R$500 mil mensal .
Por
uma simples questão de fé e valorização dos bons exemplos das pessoas realizadoras,
“noblesse oblige” (a nobreza obriga), declaramos, em nome do otimismo, da
coragem e da experiência que todo problema tem solução. Tomemos este exemplo
histórico dos habitantes da antiga Uruk e Nipur (região da antiga Mesopotâmia),
e mesmo aquele outro dos construtores da capital asteca de Tenochtitlán
(primeira cidade do mundo a abrigar um milhão de habitantes). Nos primórdios da
história estas localidades não eram, a exemplos de outras regiões baixas e
entre rios, indicadas para a habitação, por tratarem-se de áreas alagadiças.
Bastou que se reunissem alguns sábios e logo, aproveitando a força da coluna
vertebral humana, braços, pernas e da técnica dos tijolos de argila, edificações
de muradas inexpugnáveis, templos, passadiços subterrâneos, criptas
subterrâneas, dique, canais, piscinas, lindos palácios e outras maravilhas
arquitetônicas, lindas cidades emuralhadas, começaram a brotar daqueles terrenos
pantanosos, imitando a flor de lótus que nasce da lama.
Por
tudo isto e por questão de reconhecimento, a sapiência telúrica fez questão de
reverenciar a nossa área de saber, inclusive descobriremos este fato ao atentarmos
para a própria etimologia do nome do filósofo Platão, considerado reformista e
principal pensador da antiguidade clássica. De fato, honra-nos descobrir com
alegria que o nome do autor de “Fédon”, “Banquete” e d’ “A República” é uma homenagem
pública ou tributo à Educação Física, porque o termo Platão vem do grego
“plato”, que quer dizer “espadaúdo” - aquele que tem ombros largos ou espáduas
largas.
Com
estampa, Platão foi um defensor da educação física, um fomentador da área, ao vivê-la
na sua plenitude, inclusive como atleta e lutador, tendo competido e ganhado
nos jogos Píticos, pelo menos em uma oportunidade, a “Coroa de Louros de Tempe”,
na Tessália - mérito correspondente a medalha de ouro dos nossos atuais Jogos Olímpicos.
Segundo
especula-se, a “Akademus” (academia), escola criada por Platão em 387 a.C teve
vida longa devido, também, ao motivo de cumprir com àquele princípio basilar da
mentalidade grega da época, traduzido na frase: "mens sana in corpore
sano” (mente sadia em um corpo sadio). De fato, a vontade de Platão com relação
a longevidade da sua escola deu certo e é invejável, porque a “Akademus” só foi
fechada no império de Justiniano, no ano de 529 d.C., ou seja, quase um milênio
depois.
Perpassando
a ideia de aceitação universal, o postulado “mens sana in corpore sano” foi
defendido pelos seguidores de Platão, incluindo seu destacado discípulo
Aristóteles que é considerado o pai da Cinesiologia Moderna - ciência ou área
de saber específica da educação física. Sedento de entender como a cobra nada,
o pássaro voa e o homem corre, Aristóteles de Estagira dedicou-se a observar,
experimentar e anotar o “De motu musculorum" (o motor muscular),
utilizando o termo "mecânica" pela primeira vez e descrevendo o corpo
humano como um mecanismo complexos de sistemas de alavancas.
Dizem
antigas tradições grafadas em alfarrábios empoeirados do Egito, Grécia e
Roma... que quando os deuses amaram as mulheres humanas, nasceram os myrmidons,
titãs ou semideuses dotados de diversos dons relacionados a força sobre-humana ,
a beleza de Apolo e a sabedoria de Salomão. Não está demais observar que dois
dos três dons divinos, que se adquire gratuitamente pelo nascimento, são físicos:
a beleza e a inteligência, restando apenas um dom não físico: a inteligência,
mas que está condicionada ao fator saúde.
Para
finalizar gostaria de recordar a esta casa que a prática das modalidades
esportivas, fortalecem o senso de coletividade, reforçam o senso ético,
estimulam a busca pela perfeição e
eliminação dos erros, fomentam o companheirismo, o senso de pertinência ao
país e o amor ao esporte que se traduz na busca da saúde e disposição para uma
vida equilibrada pelo domínio dos apetites e da alimentação saudável, em
especialmente neste momento, quando o Supremo Tribunal Federal brasileiro julga
processo de liberação do porte e consumo de pequenas quantidades de drogas.
POEMA
Para
finalizar vou pedir licença para declamar aqui um pequeno poema, mas tão
significativo que inspirou os trabalhos de Platão e Aristóteles e demais baluartes
da educação física depois deles. Trata-se da Sátira X ,escrita no século VI a.
C., pelo poeta romano Juvenal. Ei-la:
“Deve-se
pedir a Deus em oração que a mente seja sã num corpo são.
Peça
uma alma corajosa que careça do temor da morte,
Que
ponha a longevidade em último lugar entre as bênçãos da natureza,
Que
suporte qualquer tipo de labores,
Desconheça
a ira, nada cobice e creia mais
Nos
labores selvagens de Hércules do que
Nas
satisfações, nos banquetes e camas de plumas de um rei oriental.
E
verás revelado a ti aquilo que podes dar a ti próprio;
Certamente,
o único caminho para a boa vida passa pela virtude”.
Muito
Obrigado!
*RENÃ LEITE PONTES
Professor de Educação Física, Presidente
da Academia dos Poetas Acreanos, Membro da Academia Acreana de Letras, Membro
da International Writers and Artists Association - IWA.
Amigo Renã, agradeço demais por estar escrevendo sobre nossa profissão. é muito importante para valorização da classe, e para que vejam que nosso trabalho é um exercício mental muito forte como diz Nuno Cobra, não trabalhamos apenas o corpo como os desinformados falam. Temos o conhecimento Técnico, Cientifico, Pedagógico e filosófico.
ResponderExcluirA Educação Física e o CREF8 agradece.
Imagine Presidente Castro Nunes. Conte comigo sempre que necessitar.
ExcluirUm abraço