O
PROFESSOR DA BOLA
A
Educação Física é uma das disciplinas mais ricas numa escola, não desmerecendo
as outras que tem seu valor intrínseco. Disciplinas como português, matemática,
história, geografia, ciências... Tem uma diretriz preparada com livros prontos,
os professores possuem conteúdos para cada série em que atuam, seguem um padrão
já estabelecido por autores e editoras, os professores de Educação Física não
tem este privilégio, tendo de pesquisar muito para conseguir os conteúdos. No
nosso campo de atuação tem de conviver com várias realidades diferentes, cada
escola, cada ambiente necessita de um planejamento especifico diferentemente
das outras disciplinas, na qual seu conteúdo pode ser aplicado da mesma forma
em realidades totalmente distintas. A educação física precisa de espaço e
material próprio para desenvolver suas atividades. Por ser amplo seus leques de
atuação podem utilizar da arte, da dança, da música, dos exercícios físicos, da
ginástica, das modalidades esportivas, da recreação, das artes marciais, do lazer,
das competições, das academias... Enfim atuamos como nenhuma outra disciplina e
é isto que a torna riquíssima em conteúdos e atividades.
Nas
instituições em que a educação física é valorizada, há investimentos em
recursos humanos e materiais, torna-se uma ação dinâmica onde se traduz numa
comunidade que resplandece energia, força, vigor, vivacidade, as benesses são
visíveis em todos os sentidos, primordialmente no referente à saúde, na
qualidade de vida das pessoas envolvidos no processo das atividades na educação
física.
Em
muitas escolas existe a predileção pela disciplina educação física trazendo uma
dinamicidade onde os alunos têm participação efetiva demonstrando satisfação em
estar inserido no contexto dos jogos, da recreação, dos movimentos corporais no
seu amplo campo de ação. Noutras a educação física passa a ser enfadonha,
aborrecida, praticamente não há investimentos, esta disciplina passa ser
insignificante diante da visão pequena e medíocre daqueles que não entendem seu
real significado e valor para a educação global do desenvolvimento humano.
Nós,
professores de educação física muitas vezes somos tachados de "professores
da bola", visto como aquele educador que pretende somente passar o tempo
da aula sentado e vendo os alunos jogarem bola. Professores com este perfil
existem em minoria, é reprovável? Sim. Entretanto numa análise
mais apurada devemos entender o que faz um profissional dar aulas repetidas
vezes somente colocando seus alunos para jogarem bola? Existem justificativas?
Sim.
Considere
esta realidade. As aulas de educação física são ministradas no horário normal
das outras disciplinas. A escola não possui nenhum recurso material, nem ao
menos uma bola, nada, nada. O pátio interno é amplo, porém o mato e a lama
predominam em maior extensão restando apenas um pequeno campo de futebol com
duas traves, duas quadras ao ar livre, pequenas, sem nenhum padrão de medidas,
com seu piso todo comprometido com buracos e muito saliente. A aula deve ser
dada na sala. O professor planeja conteúdos de relaxamento, alongamentos,
recreação, jogos de salão, aplicação de textos. Imediatamente é rebatido pelos
alunos que alegam em não querer estas atividades, reclamam que já passam a
semana toda em sala de aula, sentados, recebendo conteúdos das outras disciplinas
e não agüentam mais as salas, querem é sair e usar os espaços ao ar livre,
movimentar-se, afirmam categoricamente que educação física tem de ser no campo
ou na quadra. O professor leva-os para o campo, para a quadra, tenta ministrar
aula de recreação, coloca-los em circulo, em fileiras, alguns obedecem à
maioria não, mostram insatisfação nos procedimentos utilizados pelo professor,
todos exclamam que querem mesmo é jogar bola. Os alunos em sua maioria são da
periferia, alguns de favelas, revelaram nunca ter praticado aulas de educação
física, são fora da faixa etária correspondente a sua série. O professor tenta
dialogar, mostrar a importância de desenvolver outras atividades além de jogar
bola, os alunos ameaçam ir embora, demonstram revolta. Solução. Jogar bola. A
pratica exigida por eles em todas as aulas é jogar bola e prevalece por todo um
período. O professor planeja inserir outras modalidades como voleibol,
handebol, queimado... Em parte é aceito e começa a mudar somente a pratica do
jogo de futebol em dias alternados, mas a predominância é a bola. Raros são os
alunos que fogem desta pratica e vai jogar xadrez, dama e buscam sempre outras
novidades que o professor oferece.
Daí
é que surgem os professores da bola, onde a situação vivida exige adaptar-se a
realidade da comunidade escolar e somente com o tempo podem mudar a concepção
da cultura do jogo de futebol enraizada na alma do brasileiro. Precisa de muita
paciência, dedicação, planejamento, estratégias, força de vontade, cativar os
alunos com amizade, pouco a pouco induzir a prática da cultura corporal onde
todos vejam o corpo como um todo, onde tem de utilizar mãos, braços, pés,
pernas, abdômen e "cabeça" não somente para cabecear a bola, mas
também para pensar e ver a possibilidade de usar o espaço e tempo oferecido em
sua totalidade com funções diversificadas.
Texto
do Prof. Willian Pereira
Professor
da Escola Estadual Padre Alfredo – Mossoró – RN
http://educacaofisica80aulas.blogspot.com.br/2010/02/coletanea-de-textos-do-profesor-william.html
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