sexta-feira, 8 de agosto de 2014

O ABSURDO POÉTICO DE RENÃ LEITE PONTES, IWA



Análise sob olhar da apreciação científica do livro acreano "Diálogos (An) Versos" do poeta Renã Leite Pontes.

International Writers and Artists Association - IWA

Por Terezinka Pereira, Pres, Toledo, OH - USA
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A imaginação mais do que tudo define para o leitor a poesia e a prosa do escritor do Acre Renã Leite Pontes. Desde o título do seu livro “Diálogos (An) Versos*” a ilustração da capa feita por Esdon Pergentino e Jorge Rivasplata, estamos diante de uma obra original ao próprio pé da palavra. Embora pareça tudo absurdo, tudo é muito significativo.
Os versos (seriam versos?) que abrem o livro dizem:

Dizem que a poesia
é barco furado ,
mas o poeta
quando tem uma fada,
vive de nada,
atravessa a nado.
(Recorte da poesia “Ainda que Seja Tarde” de Renã Leite Pontes)

Esse “Dizem” propõe autor anônimo para não aparentar autoridade, mas a rima bem controlada é a marca do poeta, que se disfarça por modéstia.  Eu conhecia uma citação ao contrário desta, e que me parece mais respeitosa para com a poesia. É a da Ilma Fontes, editora de O CAPITAL, que diz: “A poesia é o pau que boia quando a razão naufraga “. Isto é mais favorável à poesia.
Um dos textos mais destacáveis desse livro é o intitulado “A Morte do Poeta”, dedicado “às mães, cujos ouvidos não têm ouvido poesia...”. É a história de um poeta que na hora de morrer recitou uns versos para a sua mãe morta. O narrador, que assistia isso, ao ver a morte já pronta para agarrar mais uma vítima, confessa:

Na ocasião, atônito, fiquei pensando: - a desapiedada está achando que estas moribundas palavras de ode e anseio poético são dirigidas para ela... (p. 213).

A figura da morte de maneira tradicional, com a sua “enorme ferramenta” mortífera , parando para ouvir os versos é muito poderosa, causando emoção em qualquer leitor. O narrador, por sua vez se propõe a criticar a estrutura do poema que recita o poeta moribundo, termina por considerá-lo “belíssimo”. E o final do conto, outra surpresa: o poeta morreu voluntariamente, antes que a morte o matasse!
O absurdo compartilha bem seus pontos com a imaginação , que na maior parte das vezes domina o espírito criador da prosa de ficção e da poesia. O autor de “Diálogos (An) Versos” não desmente isso. Em sua criação literária o delírio ultrapassa toda a razão.
Entretanto há algumas tentativas de realidade, como em outro texto intitulado “Só Deus Contabiliza”, também sobre a morte , que começa com este comentário:

São gravíssimas as piedades macabras das pessoas , para com quem lhes deu a vida e agora já estão nas últimas voltas do “caracol da existência”...

E poucas linhas abaixo explica a razão desse comentário:

Quando os pais estão velhos, quase todos os filhos ficam pedindo a Deu (baixinho e em pensamentos) para que seus pais morram logo e parem de dar trabalho. Pasmem! (p. 147).

Embora a rima na poesia provoque ainda mais o absurdo que o explique, vamos encontrar nos versos do poema “Vai!” um pouco de explicação do ser do poeta , de sua personalidade e até certo ponto de sua obsessão pela morte.

Se queres me encontrar
Não me procures
Onde haja aglomerações

Antes, busca-me onde haja dores
E contumazes dilacerações.

Se te chegar a hora fatigada
E tomes-me por louco ou absorto.
Deixa-me! Sorrir não mais pretendo!

Porque depois daquela madrugada,
Em cada pai que existe eu vejo um morto.
Uma sombra que ri e vai... morrendo.
(p. 71)

Deve ser por isso que o escrito colombiano Gabriel García Márquez dizia: “Cedo ou tarde, a realidade termina por dar a razão à imaginação.” Mas a estrutura formal dos versos de Renã Leite Pontes, mostra que ele tem a predileção pela poesia metrificada, imitando a clássica. Ele declara na orelha do livro: “Eu nasci estudante porque sempre gostei dos livros... e admiro o conhecimento (...) escrevi a coletânea de poemas e prosa poética que constam neste livro, que é fruto da dedicação que tenho dispensado à literatura e a Poesia.”.






*Pontes, Renã Leite: Diálogos (An) Versos. Belém: Paka-Tatu Editora, 2010.

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