quarta-feira, 25 de junho de 2014

SUA ALTEZA, O PROFESSOR


 Por Renã Leite Pontes*
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Algumas décadas atrás, a palavra “professor” era um tratamento de distinção, quase uma honraria. Exercer o ofício de ensinar garantia status e respeito da comunidade. É provável que a sociedade da época entendesse melhor do que hoje o papel dos educadores como construtores do futuro. Há muito que os professores brasileiros, porém, não contam nem sequer com uma pálida sombra do prestígio e do valor social que lhes foi atribuído no passado – ainda que a atualidade costume ser chamada de “era do conhecimento”.

Sabemos que o mundo mudou desde a queda do muro de Berlim, quando mudanças profundas ocorreram na ordem econômica, ambiental, política, social e cultural da humanidade. Essas mudanças influenciaram, significativamente, a dinâmica das relações interpessoais, intergrupais e de trabalho das pessoas, em todos os continentes.
Ademais, com o advento da globalização, a popularidade da internet e das redes sociais, a distância entre as pessoas, os países e os continentes diminuiu do ponto de vista da comunicação. Uma mensagem simultânea de e-mail, por exemplo, viaja do Brasil aos recantos do mundo que ficou uma aldeia, fenômeno que surpreende nossos progenitores, que guardam na memória o correio de selos, a única opção de correspondência à longa distância de outrora.
Todavia, as profissões e os ofícios não evoluíram à proporção exigida por este século XXI. Enquanto máquinas substituem seres humanos, jovens e adultos ficam sem trabalho, num alto índice de desemprego que atinge as sociedades em todo o mundo. Aqui no Brasil ele adentrou nas nossas fronteiras, encontrando o terreno da espoliação previamente preparado pela ala antinacionalista do Congresso Nacional - que pouco se importa com os consecutivos prejuízos brasileiros decorrentes da não reciprocidade nas concessões e negociações internacionais.
Navegantes deste novo oceano de necessidades básicas, a juventude estudantil brasileira, aporta suas esperanças nas lições do professor – um labor de aparente e enganadora neutralidade política, porque - em muitos casos - o profissional do magistério representa para alunos de núcleos familiares desajustados a única oportunidade de convivência em um ambiente permeado pela Ética, Dialógica e inteligência. Principalmente pelas razões elencadas, o labor do profissional responsável pela formação de todos os demais, sobrevive do modo como era realizado no tempo dos nossos pais e avós, talvez porque o estado não tenha interesse em aparelhar os professores para pautarem suas aulas acorde às novas tendências pedagógicas que balizam a educação moderna, ou quem sabe, porque o magistério trabalha doente das mazelas que acometem a categoria quando chega à pós-formação, a saber: a injustiça dos contratos temporários e o perigo da terceirização do trabalho docente surgido com o advento do compartilhamento das tele-aulas ministradas por “professores supergênios”.
Revestido de grande responsabilidade moral, desempenhando-se mal ou bem em uma profissão que, de maneira nenhuma, recomendaria aos  filhos, o professor de hoje convive, cotidianamente, com a frustração de não ter retorno garantido do seu labor pedagógico e demais esforços despendidos para a sua formação. É possível que a desvalorização financeira (acompanhada da alta dos preços) seja o principal problema que aflige o magistério nacional, seguido, muito de perto, das reclamações no campo das relações interpessoais, entenda-se: reprodução do desrespeito para com os mestres (e até violência) por parte dos componentes da comunidade escolar, principalmente alunos e até vizinhos da escola.
Olhando por outro prisma, tendo-se a possibilidade de compreender nossa problemática educacional pela lógica do alunado, entenderemos os motivos que levaram a juventude escolar de hoje ao traço psicológico que chamamos de perda da docilidade, que são: o medo do não ingresso na universidade; muita informação em um arcabouço moral confuso; testemunho do mau exemplo dos poderes constituídos, em todas as esferas; e, por fim, a baixa-estima ocasionada, também, pelo medo (futuro – um sofrimento por antecipação) de não conseguir inserção e adaptação no mercado lucrativo, uma vez que - os alunos sabem - os postos de trabalho mais importantes da sociedade são, em prevalecendo a meritocracia, ocupados por adultos que, outrora, foram alunos brilhantes.
Parece que a esta altura da precariedade educacional brasileira, definitivamente não é importante buscar culpados nos degraus mais baixos da escada porque, nas últimas décadas, revezaram-se no mando brasileiro diversas pessoas “idealistas”. Todas elas subiram ao poder prometendo tempestades de educação no Brasil. E o que se avista na prática é o Brasil seguir se comportando de forma infiel às reais necessidades dos brasileiros. Não deu um passo além do simples discurso futurista que pede aos trabalhadores mais um pouco de paciência porque a criatividade brasileira nos ajudará beatificando o costume antiético de botar chumbo nos ombros dos outros. Seu melhor argumento (notadamente pleonástico e tautológico) para explicar a desvalorização do professor, esclarece  que a remuneração digna do professor - enquanto primeiro passo para alavancar a educação nacional - é assunto simplesmente complexo, uma vez que valorizar, com bons salários, os profissionais do magistério, representaria impacto significativo nas “folhas de pagamentos”, porque o Brasil é pobre, ou que o trabalho do professor é um tipo de riqueza complicada para dar retorno em cinquenta anos, algo  assim como um pré-sal, algo profundo, um produto difícil de extrair.
Alheio a tudo isso, no Japão, Sua Alteza, o Imperador, dispensa o professor de reverenciá-lo, como única exceção entre as demais profissões. E o Brasil, o que vai fazer com os professores? Rebaixá-los ao patamar ínfimo de uma profissão que forma todas as outras, exigindo o sangue e a alma sem pagar-lhe dignamente? Todas as profissões têm sua importância, mas a atividade do professor é estratégica para o futuro e deveria receber mais atenção.  Por isso este texto reverencia o professor, Sua Alteza.

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Renã Leite Pontes – Escritor e poeta; Membro Vitalício da International Writers end Artists Association - IWA, Toledo, Ohio, USA; Membro Honorário do Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais - IMBRASCI, RJ; Membro Fundador da Academia dos Poetas Acreanos; Professor de Educação Física, no Acre.


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